domingo, maio 03, 2009

Inquisitio Haereticæ Pravitatis Sanctum Officium


"Inquisição (é um termo que deriva do acto judicial de inquirir, o que se traduz e significa perguntar, averiguar, pesquisar, interrogar etc.) ou Tribunal da Inquisição ou Santa Inquisição (dentre outros nomes) foi um tribunal cristão utilizado para averiguar heresia, feitiçaria, bigamia, sodomia e apostasia. O culpado era muitas vezes acusado por causar uma "crise da fé", pestes, terremotos, doenças e miséria social, o acusado era entregue às autoridades do Estado, que o puniriam, as penas variam desde confisco de bens, perda de liberdade, até a pena de morte (muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena de morte).

A Inquisição foi criada e utilizada inicialmente pela Igreja Católica, sob o nome latino Inquisitio Haereticæ Pravitatis Sanctum Officium. Devido à pluralidade de crenças populares entre os católicos, tal como a adoração de plantas e animais e utilização de mancias, que eram consideradas "heresias”. Os tribunais da inquisição não eram permanentes, sendo instalados quando surgia alguma heresia e eram depois desfeitos. A Inquisição posteriormente seria utiliza por Estados e pelas igrejas protestantes. O delator que apontava o "herege" para a comunidade, muitas vezes garantia sua fé e status perante a sociedade. A caça às bruxas não foi perpetrada pela inquisição, mais sim por Estados e tribunais civis independentes sem reais ligações com a inquisição.

A Inquisição é confundida com "Tribunal do Santo Ofício", porém o segundo é uma entidade que tem por função fazer inquisições. Ao contrário do que é comum pensar, o "tribunal do Santo Ofício" é uma entidade jurídica e não tinha forma de executar penas. O resultado da inquisição, feita a um réu, era entregue ao poder régio. Este tribunal era muito comum na Europa a pedido dos poderes régios, pois queriam evitar condenações por mão popular. Diz Oliveira Marques em «História de Portugal», tomo I, página 393: «(...) A inquisição surge como uma instituição muito complexa, com objetivos ideológicos, económicos e sociais, consciente e inconscientemente expressos. “A sua actividade, rigor e coerência variavam consoante a época.»"
(in http://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisi%C3%A7%C3%A3o)

Apesar do título e do intróito, o móbil deste post não é a Inquisição, servem aqueles apenas para situar os leitores em relação à instituição de antanho e ajudar a melhor entender as ideias adiante expressas.

A forma moderna e contemporânea da famigerada Inquisição manifesta-se a nível doméstico. Pode ser caricaturada através das cores e matizes da estafada anedota do indivíduo ébrio que ao chegar a casa vê a esposa com a vassoura na mão e lhe pergunta: "Estás a chegar ou vais a sair?...".

Sexismos àparte, é de facto a nível doméstico que ocorrem as inquirições mais duras e difíceis de enfrentar porque afectam a estabilidade nuclear do indivíduo, a Família.

Manifesta-se a todos os níveis e relações familiares, e.g.,marido e mulher, pais e filhos, entre irmãos, sogros-genros, sogros-noras, tios-sobrinhos, entre primos, etc.

A forma como lidamos uns com os outros em família, no núcleo mais restrito dos diversos núcleos sociais em que nos movimentamos no desempenho dos múltiplos papéis sociais que assumimos, é fundamental para uma relação saudável a esse nível, criando um ambiente protegido onde o grupo família se sente seguro e onde pode recarregar baterias para enfrentar o quotidiano cada vez mais stressante e exigente.


Hoje o indivíduo é constantemente escrutinado pela sociedade e como a sociedade se globalizou o escrutínio alargou-se à escala planetária, longe vão os tempos que Eça de Queiroz retratava com ironia ao escrever "(...) se milhares morrerem na China numa qualquer catástrofe natural, será uma notícia em rodapé de jornal, se em Espanha o rei partir a perna será um evento nacional, mas se o vizinho do lado fizer um corte com uma faca ao cozinhar será uma tragédia.", hoje o vizinho do lado é Madoff, a milhares de Km de distância...

Cada vez mais caminhamos para as Sociedades Big Brother, quer por motivos de segurança interna quer pela assunção do voyeurismo geral crescente manifesto na forma ávida como seguimos nos mass media a vida das pessoas ditas "públicas" e as integramos no nosso quotidiano sem nunca com elas termos tido contacto directo.

Inacio de Loyola hoje ficaria envergonhado. Os seus métodos de preservação da "pureza da Fé" e de propagação da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana[1] continuam actuais, mas encapotados... um pouco por todo o mundo e usados por todas as matizes ideológicas, filosóficas e doutrinárias. Mas, ao contrário dele, não é a Fé que move os executores...

[1] cf. post intitulado "Igreja Católica Apostólica Romana" acima.

1 comentário:

Samara disse...

Muito interessante o contexto histórico da Inquisição! Gostei muito da matéria!!!