terça-feira, novembro 10, 2020

Aventuras & Desventuras

 Aventura (do Latim adventura «coisas que estão para vir», pelo Francês aventure. Forma do verbo aventurar; nome feminino); 1 - acção arriscada, perigosa ou fora do comum; 2 - acontecimento extraordinário ou imprevisto; 3 - acaso; sorte; 4 - perigo; e 5 - ligação amorosa passageira.

Desventura (forma do verbo desventurar; nome feminino); 1 - falta de ventura; 2  - infelicidade; e 3 - desdita. 

in Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto Editora, 2003-2020.  

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/

Vem este introito, à laia de esclarecimento, a fim de evitar leituras transviadas do texto que me proponho escrever. 

Não sou, nem pretendo ser cientista político, vulgo politólogo, nem filólogo ou quejandos, dos letrados que abordam estes temas relacionados com a Política ou a Língua, intelectualmente e com base no conhecimento profundo da sua área científica de actuação. Tenho no entanto enquanto cidadão, opinião e julgo conhecer o suficiente da gramática portuguesa para poder exprimi-la de forma correcta e concreta... quanto ao sintetismo, deixo algo a desejar...

O que me traz a esta publicação tem a ver com a situação decorrente das recentes eleições presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA/USA) e o paralelismo entre elas e as africanas, na República da Guiné-Bissau e na Costa do Marfim, nas europeias de leste Ucrânia, Bielorrússia e na própria Rússia. Será que a pandemia sanitária se expandiu à vida política? 

Para não me alongar muito, é aqui que surge a questão em que a aventura de alguns se consubstancia na desventura de muitos outros, no caso vertente de países e populações neles residentes que além do exercício do seu dever cívico de cidadania, ao votarem, ou participarem nos pleitos eleitorais, obtêm como resultado pioria do seu estado de vida e da sua condição de cidadãos. Ao invés das oligarquias nacionais/federais que consubstanciam os seus privilégios nas crises por eles próprios criadas.

Transformar a adversidade em oportunidade, ideia peregrina que teoricamente até parece ter "pernas para andar", mas colide na prática com os escolhos sociais, económicos, sanitários, ambientais e financeiros presença quotidiana na vida do cidadão médio de qualquer país, independentemente da sua escala.

A ventura da desventura é aventura dos desventurados que se aventuram a confiar na aventura. E se, por ventura, a aventura resulta em ventura serão a excepção que confirma a regra... bem-aventurados.

Disse.


sábado, outubro 24, 2020

Nós os Guineenses

Numa altura conturbada da vida na República da Guiné-Bissau, em virtude das vicissitudes inerentes ao processo eleitoral em curso, cabe recordar a vida que existe para lá da vida pública e muitas vezes ao arrepio daquela e dos seus "players".

A sociedade bissau-guineense, jovem, pujante de vida e vontade de viver vai-se edificando nas diversas áreas da cultura e do desporto, mau-grado as agruras do quotidiano serem um "hazard" que noutras latitudes levariam a estádios depressivos, de negativismo e desesperança.

Posto isto, passo ao que me trouxe aqui.

Venho dar fé de uma Guiné-Bissau positiva, que se revela ao mundo em todo o seu esplendor, multi-cultural, multi-étnica,  multinacional, pan-africana. Enfim, Homens e Mulheres que pelo seu engenho e a sua arte revelam o melhor de si, de nós e relevam o que de menos positivo possa ocorrer na Pátria-mãe aos olhos do mundo.

Não conheço todos os meus compatriotas, pelo que, desde já, peço desculpa aos que faltarem como exemplo e disso fossem merecedores, não serão menos que os mencionados, apenas a minha ignorância da sua gesta os isenta de referência.

Começo por Sidney Cerqueira & Karina Gomes, casal de Artistas que na Pintura, ele, no canto, ela têm prestigiado a Guiné-Bissau por esse mundo fora;

Luís Barbosa Vicente, Gestor/Economista/Politólogo/ Escritor/Promotor de arte/Editor...  nas várias áreas da cultura, da sociedade e da política, este jovem agiganta-se pela sua polivalência, muita competência e humildade.

A banda Tabanka Djaz, Micas Cabral, Juvenal Cabral e Jânio Barbosa, embaixadores musicais da Guiné-Bissau a nível planetário há mais de 30 anos.

Amélia Costa Injai, Activista social, Mulher, Mãe, Comunicóloga, uma referência cívica, uma voz a escutar pelo que tem a dizer e sempre pronta a lutar pelos ideais que defende e por uma Guiné-Bissau melhor.

António Soares Lopes, homem de letras e da comunicação, um dos mais conhecidos escritores Bissau-guineenses, pioneiro nestas andanças.

Domingos Manuel Pereira, Engenheiro, administrador de empresas, apolítico, patriota low-profile mas cujo contributo para uma Guiné-Bissau melhor, mais justa e equalitária, como demonstrou na Cicer ao fornecer água e electricidade aos bairros limítrofes quando as empresas estatais responsáveis por esse abastecimento o não conseguiam fazer.

Fortunato de Barros, Médico Urologista, com a sua ONG "Saúde Sabe Tene", numa meritória e altruísta ação cívica em prol da saúde na Guiné-Bissau, com sucessivas missões sanitárias no país, milhares de intervenções com as equipas de saúde que até lá conduziu e equipamento que aí deixou.

São apenas alguns exemplos de como gente de bem pode dar do país uma imagem positiva no estrangeiro.

Bem hajam todos os que, como estes, elevam o nome da Guiné-Bissau no mundo.


Posicionar África no contexto mundial

A recente reunião do G-20 e as palavras do presidente Emmanuel Macron em resposta à pergunta de Philippe Couhon, jornalista Costa Marfinense, sobre "como pode o Ocidente "salvar" África?", relançaram uma questão antiga e polémica, a saber: Como se revêem os Africanos e como idealizam África no contexto mundial.

É  certo que África, como os demais continentes é heterogénea, logo ser Africano no Magreb difere de ser Africano na África subsaariana Ocidental, Oriental, Central ou Austral, e dentro de cada uma destas regiões há a considerar idiossincrasias e especificidades múltiplas de âmbito étnico, cultural, histórico, político, administrativo, religioso, ambiental, etc.

 Isto dito e considerando a África como um todo recai sobre as suas populações o estigma da escravatura que entre os séculos XVI e XIX incidiu com maior preponderância sobre o Continente e relegou parte das suas populações a uma condição sub-humana em termos sociais em relação às populações Europeia e Americana europeia-descendente no contexto mundial.

A Conferência de Berlim (1884-1885), fixou zonas de influência de cada potência europeia em África estabelecendo regras para a "corrida a África", desconsiderando os interesses e direitos das populações autóctones subjugadas pelo poderio militar europeu, estabeleceu fronteiras e renomeou regiões no continente.

Deu-se inicio ao período das grandes "expedições europeias em África" e através delas à colonização dos territórios e constituição dos "Impérios Coloniais Europeus".

Radica aqui o busílis da questão.

Por um lado o novo Homem-Africano, globalizado, educado, "ocidentalizado" por séculos de tentativas de aculturização por parte do colonizador, integrado num mundo  em que prevalece a "vitória do Ocidente", tem dificuldade em viver e conviver com um passado recente de subordinação ao "ser superior" detentor-maior da tecnologia e do saber;

Com as independências pós-segunda guerra mundial (1939-1945), em regra mantiveram-se as fronteiras estabelecidas na Conferência de Berlim (1884-1885), isto é, manteve-se o status quo;

Por outro lado ocorreu miscigenação das populações, sobretudo em meios urbanos, criando uma separação entre um meio urbano ocidentalizado e um meio rural mais tradicional mas, visto como primitivo pelos citadinos. Desta assimetria social resultaram desequilíbrios demográficos, .económico-sociais e culturais em  todo o continente que não foram resolvidos com as independências.

No capítulo económico-financeiro África, aos olhos do mundo tem sido vista como uma fonte de matérias-primas. Primeiro como fonte de mão-de-obra escrava e de minerais para o Ocidente e Médio-Oriente, depois como fonte mão-de-obra barata, de minerais e combustíveis fósseis maioritariamente e de recursos alimentares em menor escala, e.g. peixe, café, cacau, amendoim, frutos tropicais,, coconote, arroz, milho, mandioca, etc., e turismo. Em suma uma fonte de recursos naturais. Com as independências, mudando-se os atores políticos, mantiveram-se as premissas de exploração dos recursos naturais que vinham do período colonial, raramente em proveito das populações... muitas vezes em proveito de uma clique no poder ou na sua órbita.

Em suma, África, aos olhos do mundo continua a ser um continente "terceiro mundista", mal governado onde prevalece a corrupção, pois os corruptores encontram aí campo farto para aplicar as suas "jogadas", tendencialmente prejudiciais à maioria mas altamente proveitosas para os corrompidos que, sem escrúpulos, se alcandoram a benefícios pessoais obtidos à custa do mal-estar comum. Nenhum país Africano pós-independência  é autossuficiente em termos alimentares, económicos, políticos, sociais ou ambientais. No entanto, em todos eles encontramos milionários... embora os países se encontrem sistematicamente em lugares distantes dos cimeiros da lista de IDH da ONU. 

Voltando à pergunta feita ao presidente francês pelo jornalista costa marfinense, fica implícita a culpabilização do Ocidente (França, no caso) relativamente ao "salvamento" de África... sendo que é ocidental a localização maioritária dos corruptores e é no ocidente que os corrompidos aplicam os proventos da sua corrupção.

O curioso nesta questão é que Frantz Fanon nos anos 50 do século XX já antevia a evolução dos novos países africanos com a substituição do colono europeu por uma elite negro-africana que emularia o estilo de vida do colono, resultante do impacto da escravidão transatlântica/transpacífico-indica e local nas sociedades pós-coloniais. "Pele negra, máscaras brancas", 1952. 







sábado, junho 24, 2017

Pater requiescant in pace

    Elisée Jean-Marie William Turpin 
   (23/05/1930, Bissau - 24/06/2017, Bissau)

Outrora jovem e garboso gentil-homem guineense, orgulhoso dos valores e mores que a rígida educação recebida lhe transmitiu mas, dono de um espírito e mente abertos à modernidade que se avizinhava  numa África pós-guerra mundial '39-'45 rumo aos movimentos independentistas e às independências nos anos '50-'60, revoltado com o tratamento injusto dado ao seu avô materno, António dos Santos Teixeira, por alegadamente se ter recusado a contribuir financeiramente para as "campanhas de pacificação" de João Teixeira Pinto (1910-1915), consequente prisão e expropriação de alguns bens/património, desde cedo lhe seguiu as pisadas e a motivação independentista. Este sentimento levou-o a pugnar por dois objectivos primordiais para ele, a saber: garantir a sua independência económica e financeira, ingressando ainda teenager, nos CTT primeiro, depois na SCOA, na Casa Gouveia e finalmente na ANCAR; e participar da libertação do "jugo colonial" no seu "país" junto com outros colegas da sua geração. Conseguiu o primeiro objectivo ainda jovem, antes dos 30 anos e contribuiu com sacrifício, trabalho e perseverança para a obtenção do segundo.
Hoje, octagenário, longe dos anos doirados e sofridos de antanho, com a saúde debilitada o velho guerreiro de tantas lutas, no sindicato, na Associação Comercial, na fábrica de coconote no ilhéu do Rei, no PAIGC, no País enfim, soçobrou enquanto dormia, de madrugada, a Morte ceifou-lhe a Vida.
Nunca desistiu dos seus ideais, amou o seu país e o seu povo, suas gentes, manteve-se sempre ao lado dos mais desfavorecidos, tal como seu pai lhe ensinara dando o exemplo, igual a si próprio, respondendo quando o chamavam: "Elisée Jean-Marie!" - " O único!".
Fica a saudade, a memória e pena do pouco tempo passado com ele mas, fica também o exemplo e a certeza do orgulho de com ele ter privado, aprendido e convivido e através dele ver uma Guiné que sem a sua orientação e esclarecimentos seria pouco apelativa para mim que a não compreendia.
RIP  

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Gastronomia da Guinea Bissau - CPLP Guiné Bissau

Pelo estômago... também se conquista... e é sempre um prazer rever o primo "Lua" a promover a gastronomia local.

Guinea Bissau, praia de Varela

Recursos Naturais...Bissau-guineenses


Paulo Flores - Isso é que é Economia

Em Luanda, como em Bissau... "isso é que é ECONOMIA", diz o "miúdo Maravilha", como o epitetava o saudoso Jorge Perestrelo.


Guiné-Bissau, as paisagens (terceira parte)

Estes vídeos são da autoria da Asequagui - Associação dos Estudantes e Quadros Guineenses em Itália.

Guiné Bissau, as paisagens (segunda parte)

Guiné-Bissau, as paisagens (primeira parte)

domingo, setembro 11, 2016

sábado, fevereiro 14, 2015

Um retrato Bissau-Guineense

Navegando "à bolina" na internet dei por mim no YouTube visualizando esta vídeo-viagem pela Guiné-Bissau, de onde sou natural. Aqui fica a partilha, por entender interessante o retrato feito em 2013 pelo autor.

Foram para mim 25 minutos de introspecção, viajando por espaços onde estive uns, outros onde gostaria de ter estado e alguns que me penou ver o estado em que se encontram/ encontravam ao tempo da gravação do documento. Mas tudo isto forma a idiossincrasia especial de um cantinho muito sui géneris da África ocidental sub-Sahariana a que me orgulho de pertencer e onde o meu "bico está enterrado" 

quarta-feira, junho 18, 2014

O Engenho e a Arte

" E também as memórias gloriosas
daqueles reis que foram dilatando
a Fé, o Império, e as terras viciosas
de África e de Ásia andaram devastando,
e aqueles que por obras valerosas
se vão da lei da morte libertando,
cantando espalharei por toda a parte
se a tanto me ajudar o engenho e a arte."

Permito-me citar do Canto I a estância 2, desse Poema Épico do Poeta-mor Luso, Luís Vaz de Camões, "Os Lusíadas", para através dele homenagear a obra em curso por parte da minha sobrinha-amiga-companheira de lutas estudantis, mas acima de tudo uma "valerosa" mulher bissau-guineense, Dra. Carmelita Pires.

No sec. XVI já Luís Vaz apodava de "terras viciosas" o território ainda mal conhecido, onde hoje a nossa "Ita" procura ajudar as crianças de uma zona desfavorecida materialmente, mas de grande riqueza e potencial humano a terem um futuro mais promissor, investindo na sua educação, passando à prática o estafado slogan de Cabral "as crianças são as flores da revolução...", que mal tratado tem sido o jardim e as suas flores...

Mulher de acção, em vez de lamentar o que o Estado não fez/faz, a Ita lançou-se na concretização da "sua" escola, rudimentar q.b. mas com o essencial para permitir aos 154 alunos um ano lectivo sem interrupções e de aprendizagem de qualidade.

Poderão pensar que é uma gota no oceano, mas é mais uma gota e é o conjunto das gotas da chuva que faz os mananciais que originam dilúvios... 

Aqui fica a minha homenagem, singela, suspeita é certo, mas manifestei acima o eventual "conflito de interesses" que poderia toldar a justiça destas minhas palavras em relação à obra de alguém que me é caro, e que "por obras valerosas se vai da lei da morte libertando" e que sem engenho nem arte espalho, via net, por toda a parte.