sábado, agosto 01, 2009

Carrefour

Tinha optado não escrever mais sobre a situação política na República da Guiné-Bissau, antes optando por, via feeds RSS, na barra lateral direita deste blog, exibir cabeçalhos de notícias várias sobre o tema. No entanto as eleições presidenciais ora findas levam-me a tecer alguns considerandos a propósito.

A eleição do presidente da república é em qualquer estado um momento político maior, afinal, independentemente do regimen político e dos poderes presidenciais e forma de exercício desses poderes, trata-se do primeiro magistrado da nação, do chefe maior das forças armadas e do representante máximo do país perante as demais nações, logo o órgão de soberania major. É também uma candidatura unipessoal de entre todos os cidadãos que, no gozo dos seus direitos cívicos, entendam candidatar-se.

Pois bem, uma vez mais, infelizmente, a RGB dá um mau exemplo ao mundo na forma como, após um processo eleitoral dito livre, transparente e justo pelos observadores internacionais se corrompe o escrutínio popular com uma espécie de "concordata" com o candidato menos votado na segunda volta, a fim de a troco de algumas (muitas!) prebendas e mordomias o dito não "levantasse ondas" em relação ao resultado final do processo eleitoral e aceitasse os resultados.

Já antes se caiu neste erro ao amnistiar cegamente em prol de uma reconciliação nacional espúria, à revelia da Lei, da Ordem e da Justiça. Mal se andou então, como mal se anda agora.

Sendo a RGB um dos países mais pobres do mundo, mal se entende que um cidadão possa merecer do Estado um tratamento sui generis, só por ter decidido concorrer a um cargo político/orgão de soberania e passe a sobrecarregar o erário público com mordomias que nem nos países ricos são oferecidas. Mas como nada ocorre por acaso, o sentimento que transparece é o de que, de algum modo, se procurou conter o impulso contestatário por este meio.

Isto leva a que:

1 - quem perdeu nas urnas mantenha uma certa pressão sobre quem ganhou nelas o direito ao exercício das funções;

2 - entremos num novo período de "contagem de espingardas" em que cada um irá tentar perceber o seu peso específico no país e nas Forças Armadas;

3 - no próprio PAIGC, embora tendo o partido apoiado claramente a candidatura de Malam Bacai Sanhá, haja uma paz podre, a meu ver, pois não esqueço que o presidente-eleito, também se candidatou contra o actual Secretário-geral no Congresso de Gabu, tendo sido derrotado, e que após o seu regresso do Senegal manteve uma posição dúbia em relação a Carlos Gomes Jr. antes de se apresentar como candidato ao secretariado-geral, revelando nestes dois momentos que os projectos de ambos divergiam, resta saber como irão conviver à cabeça de órgãos de soberania capitais e complementares... ou não...;

4 - a sociedade civil e a comunidade internacional se mantenham alerta e na expectativa da "25ª hora", i.e. do evoluir da situação pós-eleitoral;

5 - se procure antever na propalada remodelação governamental que se avizinha, as novas linhas de rumo do Governo em prol da prossecução das políticas conducentes à normalização da economia, das finanças, da Vida dos cidadãos e dos Serviços da República; finalmente

6 - de entre os Serviços da República áreas há que pela sua delicadeza serão indicadores privilegiados da evolução da situação, e.g. Sistema Judiciário, Educação, Saúde e Defesa (a normalização da actuação das Forças Armadas, submetidas ao poder político), que se reflectem na Economia/Finanças e na confiança do mercado.

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